“Se a sua pesquisa não é acessível para o tio da limpeza, ela não me interessa”.
Uma vez eu postei essa frase dita e compartilhada por anônimos na internet concordando com ela.
Uma professora de universidade pública que tem de pesquisa mais tempo do que eu tenho de vida adulta me chamou a atenção sobre os problemas implícitos nesse discurso. Não concordei com ela na época, mas hoje eu concordo. Precisei me inserir no meio acadêmico para entender que pouco importa o que o fulano acha que a pesquisa deve ser.
A pesquisa não tem que ser acessível. A pesquisa tem que produzir conhecimento e apresentar resultados de acordo com metodologias que exigem rigor, protocolos, procedimentos.
O que deve ser acessível é a informação e a comunicação sobre essa pesquisa. Isso existe há muito tempo e pode ser encontrado em jornais, revistas, programas de TV especializados e hoje em dia, na internet.
Não faltam canais sobre o que quer que seja “traduzindo” conteúdo científico para uma comunicação mais acessível.
Obviamente, todo conhecimento não vai chegar em todo lugar e talvez nem seja interessante que aconteça, porque ninguém da conta de saber sobre tudo. Por isso, instituições como Sesc, Sebrae, Sesi, além de vários programas comunitários das universidades públicas buscam levar conhecimento sobre diversos assuntos até aos lugares mais remotos.
Por cerca de 7 anos eu busquei adaptar o conhecimento acadêmico sobre quadrinhos e cultura pop para uma linguagem mais acessível em diversos sites que escrevi.
Eu também tenho o hábito de recorrer a blogs específicos quando não entendo uma determinada linguagem. Por exemplo, quando tive meus primeiros contatos com os textos do Deleuze eu não só não entendia nada, como não tinha repertório para acessar as informações contidas neles. Então, eu recorria a blogs de estudantes de filosofia. Nossa, me socorreram tantas vezes! Ou eu recorria a algum amigo que entendesse e pedia que me ajudasse.
Essa história de “se sua pesquisa não é acessível, ela não me interessa” só demonstra profundo conhecimento de muita gente sobre como funciona o processo científico e tudo bem, ninguém é obrigado a saber. Por isso que as pessoas costumam buscar certos conteúdos mais acessíveis.
E é isso, pessoas interessadas em aprender certas coisas, procuram meios de acessar determinados conhecimentos. Pessoas que não estão interessadas, não vão ligar para o que você faz só porque você está tentando ser mais palatável para um grupo de desconhecidos.
E por que tô dizendo isso? Porque muitas pessoas com acesso a educação e informação não se interessam por nada que não diga a respeito a seus próprios umbigos. Sei disso porque em 99% das vezes que alguém disse abobrinha sobre algo que eu de fato estudo e já cansei de publicar textos, vídeos, palestras, e eu apontei à pessoa sobre seus equívocos, preconceitos ou problemas em seus discursos, eu saí como a esnobe, feminazi, sabe tudo, mal amada, aquela lá, velha e gorda, exibida, e por aí vai. Ninguém aceita ser contrariado em suas convicções.
Então, hoje eu publico no meu blog ou em poucos sites, saí de praticamente todos os grupos de Facebook e não pretendo mais “chamar a atenção” de ninguém. Quem tá interessado em se desconstruir, aprender sobre alguma coisa, não faltam sites e meios pra isso.
Eu não vou ficar com a responsabilidade de corrigir adultos que têm acesso à informação. Essas pessoas sabem que estão erradas e não se importam. Várias vezes fui cobrada de ter me posicionado em determinadas situações e todas as vezes que fiz isso, não só acabei me afastando de pessoas, como essas pessoas não mudaram absolutamente nada em suas ações.
Se isso me incomoda muito, eu simplesmente me afasto. Não tenho mais estrutura pra tentar consertar o mundo, sabe? Obviamente, não serei conivente com racismo, homofobia, misoginia, etc, mas eu tô exausta de ficar avisando pra fulano e ciclano que não existe pensar como gordo, que atravessar a rua pq viu um moleque preto chegando é racismo, que não é tribo que se fala, que é imbecil pensar em dia do hétero, etc…
A galera tem que se fortalecer em seus movimentos e parar de tentar explicar as coisas pra quem não quer entender. Pesquisadores têm que seguir fazendo pesquisa de forma ética e responsável sem se preocuparem em ainda ter que usar Tim Tok ou qualquer outra mídia da moda pra comunicar algo que passaram anos estudando. Se puderem fazer isso com o Átila faz, ótimo, mas comunicadores estão aí pra isso! Que o diga a minha amiga Tariana que é doutora em comunicação nuclear (sim, ela é foda e ainda é digital influencer, hehe).
Quanto a mim, vou deixar pra falar sobre o que eu pesquiso em meus artigos e textos acadêmicos. Nos momentos de lazer, vou me ater a falar sobre creme de cabelo, depilação, relacionamento, pets e viagens que eu me estresso menos.